Nos primeiros 90 dias, Trump coleciona inimigos e aposta em crises para dominar a narrativa

Nos primeiros 90 dias, Trump coleciona inimigos e aposta em crises para dominar a narrativa

Três meses após assumir a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, 78 anos, já deixou sua marca com um estilo combativo e imprevisível. Em ritmo acelerado, o republicano tem emparedado adversários internos e externos, recorrendo a decretos, declarações polêmicas e até ações militares que ganharam as manchetes internacionais e geraram tensões globais.

Desde o início do mandato, Trump já elegeu pelo menos seis grandes “inimigos”, numa média de um a cada 15 dias. Entre os principais alvos estão:

  • Imigrantes

  • Faixa de Gaza

  • Crise com a Ucrânia

  • Irã e os Houthis (grupo extremista aliado do Irã)

  • China (com foco em tarifas e comércio)

  • Universidades

Além desses focos de embate, o presidente também lançou críticas e medidas envolvendo o funcionalismo público, a população trans, o Canadá, a Groenlândia e até o Canal do Panamá — tópicos que, direta ou indiretamente, reforçam seu discurso nacionalista e confrontador.

📊 Estratégia do caos

Para o cientista político Maurício Santoro, a estratégia de Trump segue o método conhecido como firehose (“mangueira de incêndio”) — uma enxurrada constante de informações lançadas ao público para dominar o debate e dificultar reações.

“É uma tática típica de líderes populistas contemporâneos. A cada dia, surgem novas crises. Isso dificulta tanto a ação da oposição quanto o trabalho da imprensa ou de organizações independentes”, explica Santoro.

🗣️ “Inimigos ajudam a mobilizar a base”

O jornalista e consultor de comunicação João José Forni vê na criação constante de antagonistas uma marca de regimes autoritários. Para ele, a comunicação do governo é propositalmente caótica, alimentando polêmicas para distrair o público de temas realmente relevantes.

“Trump aposta na desinformação para evitar cobranças. Com isso, ameaça pilares da democracia”, avalia. “Ele é o centro das atenções — e parece gostar disso. Mas a pergunta que fica é: será que os americanos estão satisfeitos também? Isso só o tempo dirá.”

📉 Popularidade em queda

Segundo média de pesquisas compilada pelo estatístico Nate Silver, a desaprovação de Trump subiu de 47,1% no início de março para 50,8% no dia 17. Já a taxa de aprovação caiu de 48,3% para 45,5%, sinalizando um desgaste no início do mandato.