Estudantes do alto sertão sergipano se tornam jovens cientistas por meio da Feconart
Em sua terceira edição, Feira de Conhecimento e Arte é um espaço para o desenvolvimento de projetos científicos na escola
No alto sertão sergipano, centenas de alunos demonstram toda a força do ensino público no desenvolvimento de arte e ciência. Nesta terça-feira, 13, professores, estudantes e outras tantas pessoas interessadas pela produção científica presenciaram a abertura da terceira edição da Feira de Conhecimento e Arte (Feconart), idealizada pela equipe do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto, localizado no município de Canindé de São Francisco. Com a temática ‘Sertão da ciência’, o evento segue até esta sexta-feira, 16, e este ano conta com a participação de 12 escolas estaduais, municipais e particulares de Canindé, Poço Redondo e Monte Alegre de Sergipe.
Realizada pela primeira vez em 2022, por iniciativa dos professores Lark Soany, Marisa Nobre, Alex e Elaine, a Feconart foi criada com os propósitos de desmistificar a ideia de ciência como algo distante e provar que é possível produzir conhecimento científico desde cedo, ainda na escola. Além disso, a feira é norteada pelo princípio de produzir projetos que busquem soluções reais e viáveis para problemáticas existentes na região. “Hoje, a Feconart tem um papel de impacto social, visto que os projetos são desenvolvidos a partir de problemáticas locais, que os alunos trazem de acordo com a realidade deles. Este ano, praticamente dobramos a quantidade de projetos participantes, já que no ano passado foram cerca de 50 e, este ano, são quase 100. Só do Dom Juvêncio, são 43 projetos”, explicou a diretora do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto, Rubia Virgínia.
Um dos projetos desenvolvidos por alunos do Dom Juvêncio apresentados na terceira edição da Feconart é o AgroSapiens, uma assistente virtual que utiliza inteligência artificial (IA) para auxiliar produtores rurais na prática agrícola, a fim de torná-la mais eficiente e ecológica. O AgroSapiens está em sua segunda etapa e, no ano passado, também foi apresentado na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), considerada a maior feira da categoria do país, na qual o projeto foi finalista.
“Eu acredito que a Feconart desempenha, além de um papel cultural, um papel importantíssimo para o conhecimento dos alunos, afinal, ela desenvolve o nosso pensamento crítico para termos ideias e vermos problemas da nossa realidade e não nos contentarmos, não termos uma mente fechada. O alto sertão sergipano tem sim ciência, e tudo isso está sendo exposto aqui na Feconart”, considera o estudante Francisco Patriota, de 16 anos, um dos desenvolvedores do AgroSapiens.
Estreante na Feconart, a estudante Maysa Oliveira, 15, também aluna do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto, faz parte da equipe do projeto SaneaVida, um site em que, por meio de uma central de ajuda, é possível relatar problemas relacionados ao serviço de saneamento básico, que serão direcionados aos órgãos competentes para buscar soluções. “Estamos muito felizes, porque foi um projeto que saiu do papel. Quisemos levá-lo adiante, e hoje estamos aqui, na abertura da Feconart. É uma experiência única participar de um evento e apresentar essa proposta para várias pessoas”, colocou a adolescente.
Intercâmbio de conhecimento
Além de proporcionar a iniciativa científica aos alunos do Dom Juvêncio, a Feconart também se tornou uma oportunidade para que estudantes de toda a região expusessem seus conhecimentos e desenvolvessem ideias inovadoras. É o caso de Nayra Santana, 16, aluna do Colégio Estadual Delmiro de Miranda Britto, também localizado em Canindé.
Participando pela segunda vez da feira, este ano ela apresenta o projeto ‘Tempo de crescer: uma forma divertida de se aprender’, cujo objetivo é a produção de livros infantis interativos que induzam a redução do tempo de tela entre crianças. “A Feconart gera oportunidades, e isso é bastante importante para ver a capacidade dos alunos. Sabemos que tem diversos alunos talentosos em diversas escolas, então acho bastante importante ver o que cada um deles pensa, quais soluções eles querem para o mundo”, destacou Nayra.
Teve até quem viajou para participar da Feconart. A diretora da Escola Estadual Teotônio Alves China, Aline Roberto, saiu de Poço Redondo para acompanhar a participação de seis alunos da unidade escolar, que oferta as modalidades de ensino fundamental I e II. “Desde o ano passado estamos presentes na Feconart, e este ano voltamos com mais dois projetos da nossa escola. Nosso intuito é desenvolver essa paixão pela ciência desde o fundamental, para que, quando os alunos chegarem ao ensino médio, já tenham essa visão. Grande parte dessa questão de abrir os olhos para a ciência em si, para a pesquisa, veio da Feconart”, contou.
Jovens cientistas
Uma prova do potencial transformador da Feira de Conhecimento e Arte é a participação de alunos egressos do Dom Juvêncio de Britto, que hoje se tornaram membros da comissão organizadora do evento. Uma dessas pessoas é a estudante Anne Gabriela, 19, que atualmente cursa a graduação em Farmácia na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Segundo ela, a escolha pelo curso foi bastante influenciada pelas suas participações na Feconart, que também a beneficiaram de outras diversas maneiras.
“A Feconart abre as portas para a gente ir para o mundo. Ela explora o melhor de nós, faz com que a gente tenha essa desenvoltura de falar com o público, que aprenda o método científico. E quando a gente chega à faculdade, a primeira coisa que é cobrada é o método científico, e isso eu aprendi aqui na escola”, relatou a estudante, que hoje é diretora de Ensino, Pesquisa e Extensão da Central Acadêmica do seu departamento. “Eu conheci vários lugares do país por meio da Feconart, então eu quero que os outros alunos tenham a oportunidade de viver isso também”, acrescentou Anne.
O diretor da Diretoria Regional de Educação 9 (DRE 9), professor Antônio Santana, corrobora a constatação da estudante. “Nós já temos bastantes provas de que a iniciação científica, quanto mais cedo ela for começada, melhor. Nós temos aqui ex-alunos e ex-alunas que saíram daqui do Dom Juvêncio e de outras nossas escolas aqui da DRE9, foram para a universidade e lá não enfrentaram grandes dificuldades, porque já sabiam escrever artigos científicos, apresentar comunicação científica, fazer pesquisas e relatar as pesquisas”, justificou.
Ultrapassando fronteiras
A Feconart também se revelou uma porta de entrada para outras feiras de ciências de todo o país. De acordo com a professora Lark Soany, uma das organizadoras do evento, esta edição se torna ainda mais especial por expandir essas fronteiras para além do Brasil. “Este ano, a Feconart tem um prêmio especial, que são as credenciais internacionais. Nós conseguimos que a nossa feira fosse credenciada a feiras internacionais, e vamos mandar esses meninos para sete países diferentes. São 36 credenciais internacionais”, detalhou a professora.
“É realmente uma feira que hoje tem um caráter até internacional, porque nós temos alunos apresentando trabalhos dentro e fora do Brasil, não só apresentando como se classificando para outras e outras etapas”, complementou o diretor da DRE 9, Antônio Santana.
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