Prefeitura de São Cristóvão promove discussões sobre o pós-abolição e combate ao racismo

Prefeitura de São Cristóvão promove discussões sobre o pós-abolição e combate ao racismo

A Prefeitura de São Cristóvão, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), promoveu nesta terça-feira (14) uma Mesa Redonda com o tema “Um outro dia pós Abolição: Racismo e Reflexões”, reunindo professores, servidores, estudantes e crianças assistidas pelo serviço de vínculos. O evento teve como objetivo central analisar e discutir os desafios enfrentados pela sociedade brasileira após mais de um século da abolição da escravatura, ocorrida em 13 de maio de 1888. Com foco na necessidade de políticas públicas para evitar que a população negra sofra os efeitos do passado em pleno 2024.

A Mesa Redonda foi marcada por um diálogo sobre as diversas manifestações de racismo que permeiam a sociedade brasileira, desde as suas raízes históricas até as suas formas contemporâneas de expressão. Temas como desigualdade social, acesso à educação, mercado de trabalho e representatividade política estiveram em pauta, evidenciando a complexidade e a urgência do enfrentamento desses problemas.

Sandra Sena, coodenadora de promoção de igualdade racial da Semas, ao discorrer sobre a importância do evento, ressaltou as condições desumanas enfrentadas pelas pessoas negras na época, que foram deixadas sem  direitos básicos, gerando sequelas que perduram até os dias atuais.

“O evento tem a finalidade de registrar o dia após a abolição da escravatura. E o que aconteceu com essas pessoas que foram jogadas a esmo, nas ruas, sem direito à casa, moradia e emprego. Como foi nefasto esse processo todo, não só da escravização e da abolição nessas condições. O Brasil foi o país que mais recebeu escravizados, por isso falamos tanto em reparação, cotas raciais e é tudo isso que vamos tratar no evento”. 

 

Sandra Sena, coodenadora de promoção de igualdade racial da Semas

A secretária da Semas, Lucianne Rocha, ressaltou a importância da educação antirracista como ferramenta essencial na desconstrução de estereótipos e preconceitos.

“Toda atividade educativa deve incluir discussões sobre metodologias antirracistas. É essencial envolver a comunidade nesse processo de reconhecimento de sua identidade, visando a construção de uma cidade antirracista. Temos projetos em parceria com a Semed para alcançar as escolas e disseminar esses valores. Devemos evitar a disseminação de informações equivocadas sobre a abolição, focando na compreensão do contexto histórico e em fortalecer um poder público e um sentimento antirracista em nossa cidade. Esse é o princípio que guia nossa gestão e o caminho que devemos seguir”, explicou. 

 

Lucianne Rocha, secretária da Semas

O Prefeito Marcos Santana ressaltou a urgência de um compromisso sério e eficaz do poder público na luta contra o racismo e suas graves consequências. “É fundamental que o poder público assuma um papel ativo na erradicação do racismo e na garantia de igualdade de oportunidades para todos, independentemente de sua cor ou origem. Estamos aqui para promover a conscientização sobre a verdadeira essência do nosso país, majoritariamente negra. Cidades como São Cristóvão foram construídas com a mão de obra e o pensamento da população negra. A iniciativa da Semas em desconstruir a ideia equivocada de uma pseudo liberdade pós-abolição é louvável e necessária”, afirmou.

 

Marcos Santana, prefeito

Integrantes da Mesa Redonda

Destacando-se entre os participantes da mesa, o professor do departamento de Filosofia da UFS, Romero Venâncio, ofereceu importantes reflexões durante o debate. Em sua intervenção, Venâncio enfatizou a urgência de políticas públicas mais eficazes e inclusivas para combater as desigualdades raciais, destacando o papel crucial do poder público na promoção da igualdade e da justiça social.

 

Romero Venâncio, professor do departamento de Filosofia da UFS

“É louvável a atenção que a Prefeitura de São Cristóvão tem dado à cultura e à religiosidade afro-brasileira em outros eventos. Essa preocupação é fundamental. Ao discutirmos temas como o 13 de maio de 1888 e a situação atual em 2024, é importante lembrar que o Brasil tem uma dívida histórica com a população negra. O racismo no Brasil tem suas raízes na escravidão, e a abolição, embora significativa, não foi suficiente. É preciso uma segunda abolição, que são as políticas públicas que verdadeiramente favorecem a população negra”, ressaltou Venâncio.

César Zuzarte, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB de Sergipe, enfatizou a importância de uma análise histórica e da conjuntura atual do país em relação ao povo negro.

“Primeiramente, é fundamental realizar uma reflexão histórica e contextualizar a conjuntura social do nosso país em relação à população negra. As instituições precisam reconhecer o racismo em suas diversas manifestações e entender como ele opera. É imprescindível implantar planos antirracistas em todas as gestões de governo, seja municipal, estadual ou federal. Somente assim poderemos verdadeiramente trazer progresso para o povo mais vulnerável do nosso país, que é o povo negro’, destacou Zuzarte”, explicou. 

 

César Zuzarte, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB de Sergipe

Participantes do evento

Maria Aparecida, pedagoga, enfatizou a importância de uma construção histórica da qual somos herdeiros, ressaltando que a desigualdade persiste na sociedade mesmo após a abolição, e suas consequências são evidentes até os dias atuais.

“Precisamos debater esse tema para refletir sobre como abordá-lo na educação e pensar em políticas públicas que promovam a busca por justiça social. A história nos mostra as raízes dessas desigualdades, e é essencial enfrentá-las para construir uma sociedade mais justa e igualitária”, frisou. 

 

Maria Aparecida, pedagoga

Jeanne Marquise, pedagoga e gestora escolar, compartilhou sua satisfação em participar do debate sobre o dia seguinte à assinatura da lei de abolição. Com mais de duas décadas de experiência na rede municipal de ensino, ela destacou uma mudança notável desde 2017.

“Quando cheguei à rede municipal de São Cristóvão, em 2002, as pessoas tinham receio de se autodeclararem pretas, talvez por desconhecerem sua própria história. Muitos ainda acreditam que a princesa nos tornou livres com a Lei Áurea, mas de que forma? Existe um conjunto de políticas adequadas para as pessoas negras, incluindo as pardas e pretas, que formam a maioria da população do Brasil? Essa é uma pergunta que devemos nos fazer constantemente, não apenas em 13 de maio ou 20 de novembro”, enfatizou. 

 

Jeanne Marquise, pedagoga e gestora escolar

O evento contou com a participação do secretário municipal de Fazenda, Orçamento e Planejamento (Semfop), Eldro da França, reconhecido por seu engajamento constante em eventos dessa natureza, onde colabora e contribui com suas ideias e conhecimentos sobre a causa. Além disso, estiveram presentes os vereadores Rafael do Sucatão e Marcus Lázaro, assim como os alunos da rede estadual de ensino e as crianças assistidas pelo Serviço de Convivência e Formação de Vínculos (SCFV). Durante o evento, as crianças realizaram uma apresentação do poema “Me Gritaram Negra”, de Victoria Santa Cruz.

 

Fonte: Prefeitura São Cristóvão